Por Vivaldo Lopes*
Considero a qualificação do seu capital humano o maior desafio estratégico de Mato Grosso para se sustentar na liderança do crescimento econômico entre os estados brasileiros. É condição sem a qual o estado não conseguirá manter o dinamismo de sua economia e nem alcançar o tão desejado patamar de estado desenvolvido.
As demais variáveis condicionantes para o progresso econômico, como recursos naturais, avanços tecnológicos já estão disponíveis ou poderão ser alcançados com boas políticas públicas, robustos investimentos públicos e privados. Mas os vetores precedentes que estabelecem as condições para a sustentabilidade do progresso de uma região são conhecimento e inovação tecnológica. Que somente são alcançados com a qualificação e aperfeiçoamento do capital humano.
O progresso econômico de Mato Grosso nas últimas décadas é um caso de sucesso reconhecido mundialmente. O estado deixou a condição de uma economia que, até o início da década de 1990, produzia basicamente para a sua sobrevivência, para a liderança nacional de produção de grãos, carnes, fibras, produtos florestais, etanol de milho e biocombustíveis. A boa parceria do setor público estadual e federal com o capital privado otimizou as vantagens competitivas locais e tracionou o crescimento econômico.
Mas, daqui em diante, novos avanços qualitativos da economia estadual exigirão, obrigatoriamente, ganhos de produtividade econômica que somente virão com a utilização intensiva de conhecimento. Investir em educação, qualificar e aperfeiçoar o capital humano deve constituir-se, por conseguinte, prioridade máxima para todos os agentes políticos e empresariais do estado.
Li, recentemente, pesquisa demonstrando que, em Mato Grosso, as principais posições de direção e liderança nas maiores empresas industriais, do agronegócio, comércio e das áreas de serviços de tecnologia, energia elétrica, telecomunicações são ocupadas por profissionais que vieram de outras regiões e até de outros países. A força de trabalho local ocupa mais as posições operacionais, gerência média e chão de fábrica. Sabemos que essas empresas são grandes corporações nacionais e multinacionais, com suas idiossincrasias corporativas, possuem políticas próprias de promoção de carreiras e preenchimento de cargos de liderança. Nada contra bons profissionais de outras regiões, mas, obviamente, boa parte desses postos de trabalho poderia ser preenchida com profissionais nativos, desde que bem preparados e que atendam aos requisitos de governança das companhias.
A vasta literatura econômica mostra que todos os estados considerados os mais desenvolvidos do Brasil (SP, RJ, MG, ES, PR, SC e RS) tiveram antes suas economias baseadas na produção e exportação de bens primários. Posteriormente, ascenderam ao panteão de estados desenvolvidos, com suas economias ancoradas no setor de serviços e indústria. E também continuaram sendo grandes produtores de bens agropecuários, minerais e florestais. Em todos esses estados, o grande salto qualitativo se deu com elevados investimentos em educação para qualificar sua força de trabalho, aliados às vantagens competitivas naturais e logísticas. Construíram as maiores e melhores universidades públicas e privadas do país e ampliaram a oferta de ensino médio profissionalizante. As elites políticas, econômicas e empresariais daqueles estados, em dado momento da história de cada um, desenvolveram saudáveis parcerias entre as iniciativas públicas e o capital privado, que resultaram em escolas de excelência, universidades e centros de pesquisas de referência nacional e algumas mundiais. A qualificação do capital humano nessas regiões impulsionou o conhecimento, as pesquisas, as inovações tecnológicas e, por consequência, o progresso social e econômico.
Especialistas das áreas de educação e economia são unânimes ao afirmarem que avanços qualitativos da força de trabalho impulsionam o desenvolvimento econômico e seus resultados são colhidos em médio e longo prazo. Exigem, portanto, visão estratégica, decisões e ações públicas e privadas harmônicas, resiliência e persistência para colher adiante os resultados dos investimentos feitos agora.
Certamente Mato Grosso está trilhando o mesmo caminho para tornar-se um estado econômica e socialmente desenvolvido. Todavia, precisamos acelerar para não levarmos muito tempo nessa travessia, tão decisiva quanto importante para o futuro da atual e das próximas gerações.
*VIVALDO LOPES é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP ([email protected])