Por Caique Loureiro*
Toda vez que começo a pensar nas eleições municipais de Cuiabá, me lembro de uma crença que eu escutava quando ainda era adolescente: “Quem o Senadinho apoiar, vence as eleições para prefeito de Cuiabá!”. O Senadinho é um espaço ao lado da prefeitura, onde vários idosos se reuniam quase diariamente para jogar conversa fora. Hoje o local ainda existe, porém, com menos membros ativos.
Naqueles metros quadrados estavam a essência cuiabana, o DNA da nossa gente, traduzidos pelos patriarcas das nossas famílias. Hoje, muitos anos depois, algumas pós-graduações e um mestrado, eu entendo teoricamente o porquê do apoio do senadinho ter tanta sinergia com os resultados das urnas; ele era a representação do arquétipo cultural da nossa cidade.
A escolha do voto sempre tem um peso maior no emocional, em detrimento do racional. E cada cidade cria um elo afetivo mais fácil com o candidato que representa o seu arquétipo cultural.
Cuiabá se identifica com os arquétipos motivados de pertença e prazer, emprestando um pouco da teoria de Mark e Pearson. Basta olhar para o século XXI para identificarmos essa correlação. Neste período, a cidade teve quatro prefeitos eleitos, são eles: Roberto França, Wilson Santos (2x), Mauro Mendes e Emanuel Pinheiro (2x). E o que esses nomes têm a ver com o arquétipo de Cuiabá?
O cuiabano tem características de ser acessível, extrovertido, espirituoso, festivo e altruísta. Puxando para o nosso linguajar, é um povo sem “moage”. É um povo que tem um carinho e um pertencimento fortes pela sua terrinha. Nitidamente, percebemos a sinergia dessas características com Roberto França e Emanuel Pinheiro, dois cuiabanos legítimos que se “embolam” facilmente com o povo. Os outros dois, Wilson e Mauro, não cuiabanos. Então, como fizeram?
Bom, Wilson Santos é o pau rodado mais cuiabano que já vi! Consegue representar a cuiabania com maestria. Porém, na sua primeira eleição, recorreu à professora Jacy Proença como vice para dar um reforço nessa parte. Mauro Mendes também não deu bobeira, trouxe uma das famílias mais tradicionais da cidade para o posto de vice-prefeito, João Malheiros.
Chegamos então aos pré-candidatos a prefeito de Cuiabá em 2024. Entre os ventilados até o momento, é nítida a sinergia do arquétipo cultural com os nomes de Botelho e Juca do Guaraná, portanto, ambos saem na frente neste quesito. Os demais terão que buscar vices sem “moage”.
Caberá à equipe de marketing ponderar esse fator na identidade visual, na linha de discurso e na narrativa, pois ele é um grande facilitador da conexão emocional com o eleitor.
Neste artigo falei da importância do arquétipo cultural das cidades para a escolha do voto, nas próximas semanas, abordarei a ideologia e o pragmatismo nas eleições e as contribuições dos grupos de referência (família, igreja, trabalho, amigos) nas escolhas dos votos.
*Caique Loureiro é mestre em marketing pela ESPM-SP e Professor de Graduação e Pós-graduação. Assina campanhas eleitorais como marqueteiro político.