23 de novembro de 2024 7:51 AM

Inflação, juros e crescimento

Por Vivaldo Lopes*

Após dois dias de reunião, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central do Brasil anunciou mais uma redução da taxa básica de juros, a Selic, de 10,75% para 10,50% ao ano. É a sétima vez seguida que a autoridade monetária nacional diminui os juros. Dessa vez, pisou um pouco no freio monetário. Nas seis reuniões anteriores, a redução vinha na casa de meio ponto percentual. Ontem a redução foi de apenas 0,25 ponto percentual. Chamou a atenção dos analistas o fato de a decisão ter sido bem apertada. Dos nove membros do Comitê, cinco votaram pela redução para 10,50% e quatro votaram para reduzir a taxa básica para 10,25%.

Mesmo em percentual inferior ao esperado, a redução da taxa básica de juros produz efeitos positivos na economia. Com juros menores o crédito fica mais barato, estimula as famílias a consumirem mais bens e serviços e os empreendedores podem investir mais na expansão dos seus negócios.

No comunicado ao mercado, o BC aponta como fatores relevantes para a freada no ritmo da queda da taxa básica de juros a piora no cenário internacional e a resiliência da inflação de serviços no Brasil. Entendem os diretores do Banco Central que tais variáveis podem dificultar a condução da inflação para a meta de 3% ao ano.

A decisão da semana passada do Federal Reserve (FED), o banco central americano, de manter a taxa de juros em patamar elevado (5,25% a 5,50%ao ano) teve papel preponderante na decisão. A autoridade monetária americana alega que o mercado de trabalho aquecido estimula o consumo das famílias americanas, pressiona os preços, exigindo mais tempo para conduzir a inflação americana para a meta de 2%.

Quando as taxas de juros americanas estão em patamar elevado, como agora, atraem capitais do mundo inteiro e drenam investimentos de todos os demais países. Especialmente os de economias emergentes, como é o caso do Brasil. Essa migração de capitais fortalece a moeda americana, afeta a taxa de câmbio e pressiona preços indexados ou relacionados ao dólar.

Na visão do BC, a lenta retomada das economias europeias e asiáticas, e os perversos efeitos da invasão da Rússia sobre a Ucrânia e a guerra no Oriente Médio, aumentam as tensões e ajudam a deteriorar o cenário internacional.

No mercado doméstico, o Banco Central entende que a atividade econômica e o mercado de trabalho estão mais aquecidos que as expectativas dos economistas do banco, “…exigindo mais cautela na condução da política monetária” para fazer a inflação convergir para a meta.

Entendo que o Banco Central está cauteloso demais ao desacelerar a redução da taxa básica de juros.

No cenário externo, os efeitos da invasão russa na Ucrânia e a guerra no oriente médio já não são novidades e estão devidamente precificados pelo mercado. Nem mesmo afetaram os preços internacionais de petróleo. A política contracionista do banco central americano também já vinha sendo cantado em prosa e verso por todos os bancos e analistas nacionais e internacionais.

O cenário doméstico não apresenta grandes variações em relação às últimas reuniões do Banco Central. O real não depreciou perante o dólar e a inflação está em 3,77% (IPCA-15). Portanto, próxima da meta de 3%. Ademais, parece-me bastante paradoxal o Copom alegar que a atividade econômica e o mercado de trabalho estão “…mais dinâmicos que o esperado”. Equivale a afirmar que, para manter a inflação sob controle, precisamos aumentar o desemprego, diminuir a renda do trabalho e o país parar de crescer. A meu ver, seria sim possível manter a redução da taxa básica de juros em 0,50 ponto percentual nesta reunião de maio, sem prejuízo de atendimento da meta de inflação de 3%. Juros baixos e inflação sob controle são insumos fundamentais para o crescimento econômico sustentado.

*Vivaldo Lopes é economista formado pela UFMT, onde lecionou na Faculdade de Economia. É pós-graduado em MBA Gestão Financeira Empresarial-FIA/USP ([email protected])

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